Gabriela
Abortei aos 17 anos.
2018 Brazil
Fiquei grávida aos 17. Bom, desde que eu iniciei a minha vida sexual, eu sempre tomei pílula anticoncepcional e SEMPRE usei camisinha. Minha maior preocupação sempre foi doenças sexualmente transmissíveis, então eu tomava todas as medidas de precaução possíveis. Porém, um dia durante o ato a camisinha ficou dentro de mim. De primeira, eu não me preocupei muito já que eu tomava a pílula certinha, mas depois eu, que sou super paranoica, comecei a refletir sobre os horários em que eu tomei o remédio e a minha própria mente me confundiu, fazendo eu achar que se eu não tomasse a do dia seguinte daria merda (louca, eu sei). Resultado, fui na farmácia com o menino (que na época era um ficante meu) e eu tomei o remédio. (Meninas, nunca tomem pds se vocês já usam anticoncepcional, o efeito de uma anula a outra e esse foi o meu erro). Enfim. fiz essa cagada, passou quase um mês e os sintomas começaram a vir. Eu ficava enjoada toda hora, meu peito triplicou, minha cabeça latejava quase toda hora e entre outras coisas. A menstruação atrasada não me deixou preocupada, porque eu achei que era a pílula do dia seguinte fazendo efeito. Por conta dos outros sintomas eu resolvi comprar uns testes de gravidez por desencargo. Fui na casa do meu melhor amigo, fiz o teste e dei para ele ler. Só pela reação dele, eu já tinha entendido tudo. Depois, só para ter certeza, eu fiz o exame beta HCG. Eu sempre tive o sonho de ser mãe, mas por esse sonho ser tão grande, eu queria dar todas as melhores oportunidades possíveis para o meu filho. Apesar de não ter as piores condições financeiras, eu não queria aquilo naquela época, a parte de estrutura emocional era o pior. Eu tinha acabado de terminar o ensino médio, tinha passado na faculdade que eu sempre quis, estava indo para São Paulo morar sozinha, o pai tinha acabado de passar na faculdade de medicina que ele ralou tanto para entrar... Nossa vida estava só começando, sabe? Ter um filho naquele momento era acabar com todo nosso planejamento de vida e sonhos que graças a deus estavam dando certo. Então, por conta disso, eu resolvi abortar. O pai nunca soube nada do que aconteceu, eu não tive coragem de contar. Por sorte, meu melhor amigo, o mesmo do teste, já havia passado por uma situação parecida com a ex dele e tanto ele, quanto ela, me deram suporte. Uma dica para quem está passando por isso, NÃO FIQUE SOZINHA NESSE MOMENTO. Conte para alguém, isso faz as coisas serem mais fáceis. Eles me deram o nome dos remédios e me instruíram sobre o que fazer. Nós pegamos os remédios importados do Paraguai, vieram 4 comprimidos. A instrução era tomar 1 comp e introduzir, de uma vez, os outros 3. Apesar de eu precisar muito fazer aquilo, era difícil para mim. Eu realmente sempre tive o sonho de ter um filho, sempre idealizei muito tudo isso e só de pensar que ele, MEU FILHO, estava dentro de mim e eu ia matar ele, fazia meu estomago revirar. Eu sei que ele nem existia direito, mas era meu filho de qualquer forma, doía muito pensar no que eu ia fazer. Eu pensei em desistir inúmeras vezes, mas pensar que eu ia acabar com os meus sonhos da faculdade, não conseguiria dar atenção para ele e talvez um pai, porque eu não namorava o cara e a gente só brigava, facilitava um pouco as coisas. Eu chorei muito, mas resolvi prosseguir com o plano. Eram 6 horas da tarde quando eu tomei os remédios, eu estava muito nervosa então eu não conseguia dormir. Eu sentia muito frio e muito calafrio, era bizarro. Eu não sabia se era medo ou efeito do remédios. Passaram umas 3 horas e nada acontecia, nem dor abdominal eu sentia, o que me fez estranhar já que eu havia lido alguns depoimentos. Como eu tinha madrugado uns dois dias e não estava acontecendo nada, o que fez eu achar que era remédio falsificado e não tinha dado certo, eu finalmente caí no sono, mas acordei com as dores. Doía muito, eu rolava na cama de dor, era uma cólica 20 vezes mais intensa. Depois de uns 30 minutos desde o início das dores eu fui no banheiro e percebi que estava sangrando, mas não era nada absurdo. Passou uma hora e as dores pararam, mas logo em seguida o inferno começou. Eu comecei a sangrar muito, meu amigo estava comigo desesperado querendo me levar no médico, mas eu não quis ir. Eu chorava de dor. Até que eu sentei na privada para o sangue cair nela, estava saindo literalmente poças de sangue. Começou a sair algumas coisas no meio do sangue e eu achava que era as partes do bebe, mas até que uma coisa ficou pendurada, aquele era o feto. Ele tinha uma certa formação, o que fez a cena ficar mais aterrorizante. Uma dica é, não olhem o feto. Eu peguei um papel, puxei e entrei em choque. Era meu filho, morto, na minha mão. Eu só sabia chorar. Olhei ele assustada. Mas enfim, enrolei ele em um papel e joguei. O sangue continuou por um tempo, mas logo deu uma amenizada. Eu achei que tinha acabado, mas no dia seguinte eu continuei passando mal, fui parar no hospital, mas no fim, deu tudo certo. Apesar do alivio, foi um dos piores dias da minha vida. Só Deus sabe como estava a minha cabeça enquanto tudo acontecia e até hoje eu me sinto culpada. Sinceramente, eu acho que teria sido mais fácil, pro meu psicológico, ter o filho, mas eu confio muito que o que é para ser, vai ser. Eu não estava preparada, 17 anos é muito cedo. Enfim meninas, pensem muito bem antes de agir. Pensem em como vocês vão se sentir depois e se vocês tem psicológico para isso. Se a resposta for afirmativa, respirem fundo, encontrem a força que eu sei que existe ai dentro de você e vai fundo. Tá tudo bem não se sentir preparada, tá tudo bem não querer, tá tudo certo. Ter um bebe fora de hora não é nada lindo. Ser mãe é muito mais que engravidar, ser mãe é dar amor, saber educar, dar atenção, cuidar de uma vida como se ela fosse sua. Ser mãe forçadamente não é ser mãe. Ter um filho e ele não ter uma mãe é pior, então o aborto não é a pior coisa do mundo. Sejam fortes, vai dar tudo certo!
Did the illegality of your abortion affect your feelings?
Demais. Por ser ilegal, você se sente rejeitada e com muito mais medo.
How did other people react to your abortion?
Só duas pessoas sabem e elas já haviam passado por isso, então além de reagirem bem, elas me deram suporte.
Julieta Iovaldi Curutchet
Decidí desde el principio no compartir esa experiencia con la pareja de ese…