Ana Lu
e vida nova pela frente...
2019 Brasil
É um misto de sensações e emoções. O aborto é um momento solitário. E por mais que seus amigos mais próximos e íntimos estejam sabendo, lhe ajudando e confortando, no íntimo do seu pensamento e do seu coração, você sente um turbilhão de sensações. Mas, tudo passa, creio que o tempo consegue amenizar tudo.
Nunca imaginei que um dia eu poderia chegar a decisão de um aborto. Até porque eu já tenho um filho. Ele não foi planejado, porém, eu era uma pessoa completamente contra o aborto, e mesmo passando por um momento difícil, eu decidi tê-lo. Talvez se na época eu fosse mais mente aberta, segura e decidida, não teria me tornado mãe aos 19 anos. Enfim... O fato é que depois de 06 anos, mal eu sabia que passaria por uma situação de extremo amadurecimento porque seria pega de surpresa por uma gravidez menos desejada ainda. Eu namorava a pouco menos de 10 meses, e achava que conhecia esse namorado e sua família o suficiente. Ingênua ilusão... Um pouco depois de 02 meses da notícia de que eu estava grávida, eu fui completamente abandonada, humilhada e não conseguia desejar/planejar outra coisa se não a morte. Desde quando descobri a gravidez, eu já havia procurado o medicamento para tomar e cessar todo aquele pesadelo. Porém, onde eu moro é pequeno o suficiente para as pessoas ficarem sabendo. Na época eu ainda estava junto do ex e ele provavelmente ficaria sabendo do aborto. Não achei os medicamentos, apesar de buscar bastante. Foi necessária toda uma reviravolta, a exposição ao ridículo para que eu pudesse recorrer à internet e buscar incansavelmente pelos comprimidos. E foi o que fiz... Pesquisas e mais pesquisas, e quando eu já estava quase desistindo, foi que encontrei o site abortoajudaa.org. Encontrei a Mariana, que além de ter me ajudado com os comprimidos, me ajudou em todo o processo. Quero lembrar que antes de tudo, recorri a este site, porém, fui informada pelos mesmos, da dificuldade do medicamento chegar ao Brasil. Foram honestos, atenciosos e extremamente éticos comigo. E no momento do aborto eu tive comigo uma grande amiga, a Women on Web e a Mariana, quem me forneceu os medicamentos e me auxiliou durante o processo. Eu me vi perdida quando soube da segunda gravidez, me prevenia, tinha tanto cuidado.. como isso foi acontecer? Eu só sabia chorar, só queria ficar sozinha, desejava morrer. E por estar próxima das 13 semanas de gestação, achava que não haveria nenhum recurso, até que eu consegui encontrar a Mariana. Antes eu era contra o aborto, e toda a situação na qual passei serviu principalmente pra uma coisa... Nunca, em hipótese alguma, julgar os sentimentos e as decisões dos outros. Se o aborto fosse legalizado, provavelmente o número de mortes de mulheres desesperadas, como eu, diminuiria muito. As mulheres seriam mais donas de si, e seus psicológicos jamais ficariam tão agredidos, quando decidissem que àquele não era o momento certo de colocar uma criança no mundo, pois, suas condições financeiras e psicológicas não comportam um filho, não naquele momento. Que foi meu caso. Eu aprendi que esse mundo é egoísta só com as mulheres, porque os homens quando abortam um filho que já nasceu, não é tão julgado e condenado, quanto uma mulher que não se sente preparada para ser mãe. O mundo tenta nos obrigar a pensar que fomos predestinadas a sermos mães, que está no nosso instinto feminino procriar, mas, o mundo esqueceu de ensinar aos homens que o abandono paterno é tão grave e pior do que o aborto ainda ser ilegal.... Mulheres, se vocês se sentem na dúvida, se vocês têm medo, isso é normal. E passa. Demora, pra mim ainda não passou completamente, mas passa. Acreditem. Depois que realizei o aborto, minha vida ainda não está 100%, não por causa do aborto, jamais! Mas porque sofri nas mãos de gente machista, ignorante e egoísta. Procurem ajuda, mas, cuidado com quem conversem. Achei ajuda aqui, conselhos e informações que me foram de extrema utilidade, e também com a Mariana. Que possamos um dia, viver em paz, num mundo onde não seja ilegal buscar ajuda para um sofrimento na qual é do nosso direito querer ou não cessar.
A ilegalidade de seu aborto afetou seus sentimentos?
Sim...
Como as outras pessoas reagiram ao seu aborto?
Pouquíssimas pessoas ficaram sabendo. 04 amigos bem íntimos e minha mãe. Se sentiram aliviados, assim como eu. Pois, conheciam bem a minha vida e toda a dor na qual eu vinha passando, beirando um depressão profunda.
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