Anônima

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Eu sobrevivi, você também vai

2019 Brasil

Gostaria de compartilhar com vocês minha experiência. Procurei ser bem didática e direta. Conteúdos como esse me ajudaram nesses tempos difíceis. MINHA VIDA SEXUAL Eu sou bissexual. Nunca tomei anticoncepcionais. Só me relacionei com homens que usavam preservativo (usava preservativo mesmo em relacionamentos de anos). Tenho uma vida sexual ativa a mais de 10 anos e nunca havia ficado grávida. Mas, com esse menino era diferente, ele forçava a barra para fazermos sem proteção. Era tão bom. Que acabei sedendo a pressão algumas vezes, em outras mesmo eu insistindo ele fazia sem, já tirou o preservativo sem eu saber também. (Isso se chama estupro. Mas, como aceitar que alguém que você realmente gosta está fazendo isso com você?) Tomei algumas pílulas do dia seguinte e pedia pra ele pra usarmos proteção nas próximas vezes. Eu teria mandado embora qualquer homem que fizesse isso comigo. Mas, eu não conseguia fazer isso com ele. Eu brigava, ficava chateada. Mas, ele sempre acabava voltando com a promessa de nos cuidarmos. As pílulas do dia seguinte estavam me afetando negativamente, teve um mês que tomei várias. E elas realmente funcionam. Mas, eu sangrava duas vezes ao mês, uma vez fiquei mais de dez dias sangrando. Sem falar que afetava a minha depressão, eu tinha pensamentos suicidas e sentia que piorava o quadro da doença. Foi aí que decidi não tomar mais nenhuma pílula do dia seguinte. Mas, é claro que ele continuou insistindo para fazermos sem. Fazíamos algumas vezes com proteção e outras sem. É uma química louca que tenho com ele. Os dias que passamos juntos transavamos até cinco vezes em um mesmo dia. Loucura, né? Então, com tanta frequência o preservativo nem sempre estava presente. E eu não tinha mais forças para ficar insistindo para ele usar. Eu havia comprado várias, de todos os tipos para não ter desculpa para não usar. Mas, mesmo assim me deixava convencer, ou só ficava segurando o preservativo enquanto ele apressado terminava o que havia começado sem proteção. Eu não queria tomar anticoncepcionais, porque sempre soube como eles afetam a nossa saúde de uma maneira terrível. Então a melhor opção seria o DIU de cobre. Mas, para colocar um no SUS é uma burocracia enorme e bem demorada. E no particular ficava muito caro, e claro eu sempre sem dinheiro. Além disso, para usar esse método a maior parte dos médicos pedem a participação do companheiro, chamam de planejamento familiar. Alguns se recusam a colocar em mulheres solteiras, como era o meu caso. SIM, eles são donos dos nossos corpos. E os outros métodos, demoram um pouco para fazer efeito. Em torno de 30 dias. O que não resolvia o meu problema. Agora entendo porque os homens são tão irresponsáveis com isso e acham que a obrigação de evitar uma gravidez é exclusividade das mulheres. Isso acontece porque só a nossa vida vai ser afetada de verdade. Eles podem só fugir das consequências e seguir como se nada tivesse acontecido. Se os homens engravidassem teríamos metódos muito mais amigáveis, com certeza. DESCOBRINDO QUE ESTAVA GRÁVIDA A menstruação atrasou. Eu estava sempre agoniada nos meses anteriores. Mas, dessa vez eu estava otimista que não estaria grávida. Qual a chance? Tantas amigas tentando engravidar por muitos meses, sem conseguir. Por que aconteceria comigo? Pensei que era apenas um efeito colateral por ter usado tantas pílulas do dia seguinte. E os sintomas que eu estava tendo eram muito parecidos com a TPM. Só depois consegui perceber algumas sutis diferenças. Meus peitos estavam doloridos, como na TPM, só que dessa vez a dor era mais nos mamilos. Eu tinha cólicas no útero, só que eram ligeiramente diferentes e mais persistentes, sem pausas como eram as da TPM. Eu estava me sentindo enjoada, um pouco tonta. Me dei conta que podia estar grávida, quando passei um creme no corpo antes de dormir e aquele cheiro me incomodou um pouco. Os cheiros estavam mais intensos. E sentia enjoos e uma dor de estômago que não sumia com remédios. Acordava no meio da noite para fazer xixi, que nunca foi um hábito meu. Também tive mais espinhas no rosto, minha pele parecia mais oleosa. Eu ficava adiando para fazer o teste, esperando que amanhã eu ficasse menstruada. Com medo de encarar a realidade. Saí do trabalho, passei na farmacia, voltei pra casa apressada, com muitas dúvidas na cabeça, fui direto para o banheiro, e deu positivo. Na hora. Fiz xixi naquele teste e já apareceu positivo, foi instantâneo. Que desespero. E agora? Falei pro meu parceiro, que estava deitado na rede na sala. Ele não acreditou. Falou pra fazer exame de sangue. Se negava a acreditar, na verdade. Porque um falso positivo no teste de farmácia é quase impossível. Mas, marquei no outro dia de manhã o exame. Minha cabeça estava a mil. O resultado só sairia no fim da tarde. E saiu. E foi positivo. Mostrando que eu estava de 3 a 4 semanas. Fiz o Beta HCG quantitativo. Era real. Compartilhei o resultado com ele. Que só falava que não estava preparado para ser pai. Eu também não estava preparada para ser mãe. Mas, a gestação leva nove meses justamente para termos tempo. TOMANDO A DECISÃO MAIS DIFÍCIL DA MINHA VIDA Eu havia me apaixonado pela ideia de gerar uma vida. Os hormônios me afetaram muito, eu estava super sentimental. Chorava por tudo, mesmo antes de descobrir. Alguns dias antes, como estava atrasada eu conversava sobre isso, com esse homem que eu estava apaixonada, sobre termos filhos. Sobre a possibilidade de eu estar grávida. Mas, como isso parecia algo distante, nós ficamos felizes e falamos sobre isso com alegria, brincamos até sobre como escolheríamos o nome, de como contaríamos para a família. A gente se conhecia a poucos meses. Ele era de outra cidade. Assim que chegou os algoritmos nos uniram (sim, seria um filho do Tinder haha). E foi tudo muito intenso desde então. O que não anulava o fato de que eu estar grávida, nesse momento da minha vida, beirava a loucura. Eu como boa feminista sempre fui pró-aborto. Sempre tive certeza que nós somos donas do nosso corpo e somos livres para decidir. E já havia pesquisado sobre isso várias vezes. Então, sabia exatamente como fazer e tinha até um contato aqui de Curitiba salvo no celular que poderia me ajudar com os remédios (encontrei esse contato no google e salvei para alguma emergência no futuro, minha ou de qualquer mulher que eu pudesse ajudar). Na minha cabeça imaginei como seriam os dois cenários. E a única certeza é que estaria sozinha. Sozinha para abortar e sozinha para criar um filho. As questões que mais me torturavam eram que havia sido feito com "amor". A gente realmente tinha uma coisa bonita juntos. E eu não estava numa situação vulnerável. Sou independente, pago minhas contas com meu trabalho, moro sozinha e teria condições para criar um filho. Sem falar na minha idade. Quase 28 anos. Uma boa idade para ser mãe, eu pensava. Tenho algumas amigas que são mãe solo. E elas conseguem. Mas, também sei que a vida delas mudou totalmente. Como a minha também mudaria. Também tenho consciência que a maternidade é um desafio enorme. E que isso afetaria todas as áreas da minha vida. Eu nem tinha certeza se algum dia eu gostaria de ser mãe. Sempre que pensava mais profundamente sobre esse assunto eu inclinava para a opção de adotar uma criança e não ficar grávida. E eu estava. Como decidir isso? Sem poder compartilhar isso com ninguém. Na internet encontrei pouco conteúdo sobre como tomar essas decisão. A maioria que falava sobre isso eram páginas religiosas, que óbviamente tentavam me fazer sentir ainda mais culpa. E outros textos bem escrotos escritos por homens. Então, parei com essa busca. Estava sozinha também para decidir. Meu parceiro, só disse que não estava preparado para ser pai e sumiu. Como se colocasse uma pressão para não prosseguir com a gravidez. Mandei mensagem para pegar os remédios, mandei mensagem cobrando algumas pessoas que me deviam para eu conseguir o dinheiro. E acertei tudo. Contei para o pai da criança que que ficou tão assustado com a notícia de eu estar grávida que me abandonou para tomar a decisão sozinha. Eu queria que ele tivesse me ajudado a decidir e dividisse comigo essa responsabilidade. Mas, sabemos que homens não são bons nisso. SOBRE O PROCEDIMENTO Comprei 8 comprimidos de cytotec, o meu contato disse que pegava direto do laboratório na Itália. Paguei 100 reais por cada um. Os comprimidos eram brancos e tinham um formato hexagonal, com aparência firme. Deviam ser verdadeiros eu pensei. A orientação segundo a Organização Mundial da Saúde era que fossem usados 12 comprimidos para garantir um aborto completo. Mas, eu não conseguiria os 1200 reais e estava com quatro semanas, então os oito comprimidos deveriam ser o suficiente. A médica de quem comprei os remédios sugeriu um método que seriam necessários apenas 7. Mas, achei mais seguro seguir a orientação da OMS. Mesmo com apenas 8 comprimidos. Então, me preparei para o momento comprando vários absorventes noturnos, era um final de semana com feriado prolongado, que seria perfeito para a minha recuperação até ter que voltar ao trabalho. Era naquele momento ou não seria mais. Pedi para que toda a força feminina estivesse comigo naquele momento e me protegesse. Porque os medos eram muitos. Morrer, ser presa, os remédios serem falsos, ou sequelas ao bebê caso ele continuasse no meu ventre. E eu sabia que essa decisão também estaria comigo pra sempre. Então, escolhi um horário. Me alimentei um pouco, comida leve, tomei bastante água e coloquei dois comprimidos de cada lado da minha boca, entre os dentes e a bochecha. Aguardei meia hora até que meu corpo absorvesse e engoli o que sobrou. Dentro de 3 a 4 horas eu tomaria a segunda dose. O tempo havia passado e eu não tinha nehum sintoma. Logo depois da segunda dose que administrei da mesma forma que a primeira comecei a sentir os sintomas. E foi tudo igual os relatos e orientações que encontrei na internet diriam que seria. Enjoos, cólicas intensas, diarréia e por fim sangramento, com alguns coágulos grandes. A dor ficou bem grande e tomei ibuprofeno, que ajudou. E para aliviar os enjoos eu colocava gelo na língua. Eu dormi entre uma dose e outra, colocava o despertador de 3 em três horas para poder conferir se estava tudo bem. Fiz isso sozinha na minha casa. Apenas pedi para um amigo ficar perto do celular caso eu tivesse alguma emergência ele pudesse me socorrer. Não comentei com ele pelo que eu estava passando. Mas, ele se prontificou a me ajudar. Mandou algumas mensagens perguntando se eu estava bem durante o processo o que me fez sentir segura. Apesar de ser um processo sofrido, com dor, e tudo mais, correu bem e dentro do esperado. Foram umas 48h com os sintomas do remédio, que iam ficando mais leves. E DEPOIS Estava feito. Eu tinha abortado. Entrei para as estatísticas. O pai mandou mensagem alguns dias depois e eu contei que tudo correu bem. Ele não pareceu feliz com a notícia. Mas, trocamos poucas palavras de forma amigável. Mais alguns dias passaram e eu ficava cada vez mais angustiada. Tinha perdido um filho e um companheiro. E minha ilha solitária ficava cada vez mais isolada. Carregar aquilo sozinha, sem poder falar sobre estava me matando. Pensei que talvez teria sido melhor ter morrido junto com aquele feto. Uma dor enorme entre o peito e o estômago. Uma dor profunda sem conseguir identificar onde realmente era, porque ela era na alma mesmo. Tinha que pedir ajuda. E quem poderia me ajudar? A única pessoa que sabia o que estava acontecendo. Mandei mensagem para ele, que num primeiro momento recuoou. Mas, depois realizou que talvez se estávamos juntos nos momentos bons, deveríamos estar juntos nos momentos ruins também. Veio até minha casa, e eu pude chorar tudo. Chorei até ficar com o olho quase fechado de tão inchado. E aliviou. E nos abraçamos e continuamos juntos. Só que as coisas nunca mais serão as mesmas. Eu tinha mudado. Passar por isso me transformou. Talvez como as mulheres também se transformam quando um filho nasce. Não queria nunca ter passado por isso. Não quero que nenhuma outra mulher nunca tenha que passar por isso. Mas, eu passei. E você que está aí passando pela mesma coisa, vai conseguir. Vamos conseguir viver com isso. Hoje depois de um ano de remissão da minha depressão estou deixando os remédios (doença que eu já tinha antes desse episódio, no ano anterior eu havia tentado suicídio). Temo como esse trauma vai afetar a minha vida de agora em diante. Se pudéssemos pelo menos ter um pouco de suporte e apoio nesse momento, seria mais fácil. É definitivamente uma questão de saúde. Mulheres, vocês me deram força nesse momento. Mesmo sem saber. Ler os depoimentos de quem já tinha passado por isso e tinha conseguido me tranquilizou um pouco. Foi lindo ver tantas mulheres criando essa rede de apoio. Agradeço imensamente por isso. Não parem nunca de produzir conteúdo, não parem porque essa luta está realmente ajudando, fazendo a diferença, salvando vidas. E eu com esse relato espero poder dar força e esperança também para poderem sobreviver a isso. Uma vez li que "se você está no inferno, continue andando" e é isso que estou fazendo.

¿La ilegalidad del aborto afectó sus sentimientos?

A ilegalidade do aborto afetou na minha sensação de segurança.

¿Cómo reaccionaron otras personas a tu aborto?

Apenas o pai soube e não se posicionou.

Maiara Rejane

Não havia outra alternativa.
Dia 02 de Julho, voltava de uma festa, havia bebido…

Lily

MI CASO

Pam Map

Yo lo hice no me arrepiento para nada y agradezco a este sitio por haberme…

Raquel Monterrey

I spoke with the spirit of my child before my abortion. That spirit who was…

Issy

Tome una decision

Anna Ninguna

No estaba lista

Louise Harper

I have had two abortions. One at the age of 22 which I paid privately for at 9…

Magda

Miałam...

Melanie

No era el momento ni la persona

Annabelle Carton

j´ai eu un avortement

julie

My life became changed

Jennifer

At the age of 15 I was told that I would likely never be able to get pregnant…

Nikki

I made the right decision.

Delfini

Mam 44 lata i dwójkę dzieci. Moje dzieci są już w szkole podstawowej. Bardzo…

maly min

Si, yo una vez estuve embarazada, de eso no hace mucho y cuando me entere llore…

M

At first i didn't know i was pregnant until i noticed i was vomiting a lot, but…