Dora
Eu estava calma, mas um pouco..'medrosa'? talvez? Não sei se era um bem um medo mas uma relutância, uma vontade de adiar o máximo possível o inicio do processo, por qualquer receio que fosse que não eu soube decifrar. Fui atrás de antigos amuletos na minha caixa de lembranças, aquele medalhão que ganhei do meu pai quando era mais nova que tinha a reza do Anjo da Guarda em que eu rezava toda noite antes de dormir, não acredito que essa força significativa da minha vida teria se dissipado e eu iria ativa-la novamente. Rezei repetidas vezes até que as minhas palavras expressassem o máximo de verdade, profundidade e intenção, assim também fiz com minhas duas outras velas, com a amarela uma para que eu tivesse maior controle sob meus processos mentais naquele momento para igualmente tomar controle aos processos físicos que iam ocorrer aquele noite, a azul, fiz a reza junta do medalhão do anjo da guarda, essa era pra ele. Acendi as velas, fechei os meus olhos diante delas e meditei, me desconectei do meu corpo e fui pedir auxílios ancestrais, eu senti a presença, sai do transe após alguns minutos, me curvei para todos os lados do quarto como forma de agradecimento, a partir dali me senti segura e apoiada e muito mais leve e calma. Coloquei cantos indígenas que também foram essenciais para o ambiente ficar mais acolhedor, acendi alguns incensos, me senti plenamente confortável.
Manu (minha amiga) chegou, hora de começar, papo vem papo vai, foi uma coisa boa, nós nos damos bem e a presença dela foi essencial, ela parecia disposta para me ajudar e apoiar, tomei coragem e tomei os remédios, custou um pouco para causarem efeitos, até fiquei um pouco preocupada, mas começou as cólicas, no início fraquinhas mas que foram aumentando gradualmente, era uma coisa que ia e voltava como se fossem contrações. Na hora que as dores realmente começaram a pegar forte me deitei, o processo inteiro foi uma meditação, eu me deitava imóvel, colocava minhas mãos ao redor do meu útero e respirava, e depois de um tempo eu conseguia entrar na dor e conseguia manipular a dor, acalma-lá, quase mal consigo dizer que foi uma experiência ruim apesar dos apesares, mesmo já sabendo dos poderes da mente, ali pude sentir essa conexão mental ao corpo em prática com muito mais verdade. Quando eu tinha vontade de ir no banheiro, eu ficava horas no banheiro, sentava na privada e meditava por lá mesmo, esperando o que fosse pra sair, sair. (Aliás quero lembrar de um detalhe só pra marcar os acontecimentos, quanto tomei os primeiros comprimidos olhei depois no relógio para marcar o horário em que iniciei e era exatamente 21:21( aiai o universo), e bem,começamos daí, as primeiras contrações vieram a meia noite quando tomei a segunda dose, e as dores reais oficiais vieram a 1:00.) Continuando pela parte - eu no vaso-, eu meditava ali mesmo, apaguei a luz e fiquei lá, perdi totalmente a noção de tempo, eu era apenas dor e respiração, quase uma fusão das duas coisas e nada além disso, esqueci do meu corpo, era apenas útero e pulmão. Até que então desperto, algo caiu no vaso, a dor para, eu levanto, acendo a luz e olho o que tem lá dentro, era algo branco e relativamente grande, achei muito estranho, procurei algo pelo banheiro para pegar, achei um cano no armário e puxei com ele mesmo, coloquei num potinho, fui acordar a Manu pra ela analisar aquela coisa comigo (ela estava dormindo porque estava mal e cansada, eu não reclamei até porque não tinha muito o que ela fazer e eu iria preferir ficar quieta e de olhos bem fechados, definitivamente não daria pra bater papo nesse momento) ela foi até lá, pegamos uma tesoura pra cutucar e começamos a mexer, ficamos meio em dúvida sobre o que poderia ser, eu nunca tinha visto algo do tipo relatado na internet em algum aborto, até achei um link que falava algo sobre câncer no útero durante a formação do bebê e etc e que rolava de sair uma coisa parecida com essa no aborto espontâneo, fiquei um pouco encanada com aquilo por alguns minutos, mas depois decidi que não valeria a pena me torturar por isso, o que fosse de ser, iria ser, quem sou eu pra reclamar? Se aquilo realmente fosse maligno saberia muito bem que a culpa de aquilo ter se formado seria minha mesma, e eu tbm nem tinha certeza de nada.. enfim. Eu guardei num pote, com a intenção de posteriormente levar pra algum médico fazer talvez um biopsia. Deitei na minha cama, com cólicas fraquinhas, percebi que minha mente estava um pouco mais agitada depois dessas especulações, eu estava fantasiando sobre a origem daquilo e sobre como seria o meu futuro com aquilo que imaginei que poderia ter como doença, lutei um pouco contra esses pensamentos que nada valiam pro momento e nem pra nada pra ser sincera, eu não poderia deixar eles dominarem, eu tinha que ser mais forte que isso. Respirei, redirecionei, me acalmei, e na minha mente nesse momento me fiz como se estivesse entrando no meu útero e fazendo uma limpeza lá dentro, tirando tudo que não deveria estar lá, enquanto isso minha mão auxiliava o processo energeticamente pairando no pé da minha barriga, e sem tentar, dormi. Acordei com cólicas fortes novamente, fui ao banheiro o absorvente estava cheio, troquei. Senti que tinha algo vindo, descia alguns coágulos grandes, fiz a mesma coisa, sentei, apaguei a luz e respirei, senti de novo algo cair e a dor passar. Levantei olhei e era outra coisa 'assustadora' parecia um saco de sangue/carne e era grande, do tamanho de um dedo indicador e gordinho, não era um coágulo porque tinha uma forma muito mais de densa do que líquida, chamei Manu, a fiz olhar guardei junto com o outro 'corpo estranho' que tinha descido, não chegamos a uma conclusão. Novamente fui dormir e de novo me veio aqueles pensamentos tanto quanto que ruins e que logo os redirecionei, coloquei em minha mente que aquilo era uma limpeza e plenamente me senti em um ritual de limpeza, meu corpo após expelir esse ultimo pedaço de coisa que não faço ideia do que é, me senti muito mais leve e aliviada, deitei na minha cama e dormi como um anjo, e acordei como um. Quando acordamos pesquisamos melhor sobre os restos de aborto, e comparamos umas fotos da internet, e a massa branca era na verdade um saco embrionário, a foto era idêntica, me senti mais leve, agora sobre a outra massa vermelha que saiu não consegui descobrir muita coisa, mas bem, não sei se estou muito preocupada com isso agora. Me senti bem e minimante disposta durante o dia, quase que me rendi e sai pra algum lugar, passei o dia pintando umas telas com a Manu e com a Isabel minha sobrinha, foi gostoso, e sobre os escapes de sangue eles eram muito poucos, não desceu muito depois disso. As dores da cólica voltaram agora a noite de uma forma moderada, passei o dia inteiro sem elas, mas agora voltaram, mas acho que deve ser normal e nem posso reclamar, porque o meu aborto me pareceu bem tranquilo e rápido perto dos outros que li por ai, que foram bem mais complicados. Pra ter certeza absoluta das coisas, daqui uns 3 dias vou fazer um ultrassom pra ver se tá tudo certo lá pelo meu útero, não posso ir já porque ainda pode ter restos de comprimido na vagina e seria meio chato acabar com essa história indo pra prisão porque causei um aborto hihi. Enfim, acho que foi isso, essa história de um aborto ainda pode ter alguns capítulos, vai saber o que ainda pode acontecer, tô sentindo algumas cólicas ainda, nesse exato momento aliás. é isso bye bye
Brezilya
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Mãe preocupada mas me apoiou na decisão, em relação aos outros que souberam, também estavam de acordo com minha decisão, sem julgamentos.