Maria Clara
2014 บราซิล
Estou aqui, pois assim como ler o que escreveram ajudou no meu “processo”, espero que meu depoimento também ajude a outras pessoas. Desculpem por escrever muito, mas descrevi cada momentinho e cada sensação de tudo que passei. Eu tenho 23 anos e até pouco tempo ainda era virgem, tinha curiosidade sobre sexo e, principalmente, já estava começando a me sentir pressionada e idiota por esperar um “amor”. Acabei entrando na “pilha” das pessoas, que viviam me dizendo que não existiria um momento especial e muito menos um “príncipe” e “decidi” ter minha primeira relação com meu vizinho. Já tínhamos ficado algumas vezes, estava um clima legal e eu deixei rolar. Pedi pra colocar a camisinha e ele fez isso, mas estava doendo muito e ele a retirou sem que eu percebesse. A verdade é que eu já não queria mais tentar, mas ele insistiu e acabei deixando, eu pensei: “vou ter que passar por isso mesmo”. Estava sendo horrível, doía e a falta de sentimento só fazia aquele momento ser ainda pior e estranho. Meu único pensamento era: acaba logo, por favor. No dia seguinte, decidi que não iria fazer sexo nem tão cedo, pelo menos não sem gostar da pessoa. Enfim, essa não é a questão. Ao sair da cama, percebi que a camisinha estava do outro lado, suspeitei que ele tivesse tirado antes, mas não comentei nada. Mais ou menos duas semanas depois, comecei a sentir meus peitos muito inchados e me incomodando muito mais do que normalmente antes da menstruação. Como tinha feito sexo, comecei a ficar complexada. Ainda nem estava atrasada, mas comecei a procurar na internet sintomas de gravidez e coisas afins. Resolvi esperar mais alguns dias para ver se iria atrasar, mas já estava morrendo de medo.. Dois dias depois, fiz o exame de farmácia, o que confirmou a gravidez. Foi um choque. Não conseguia parar de me achar a pessoa mais idiota do universo, além de não ter gostado do que rolou e estar evitando meu vizinho para não ter que acontecer de novo, eu tinha ficado grávida, não podia acreditar. Porém algo nunca foi dúvida, eu não teria um filho nessas condições. Tenho muitos planos, muitos objetivos que seriam deixados de lado e, principalmente, o rapaz não era nada meu, não dava pra criar um vínculo eterno com alguém assim. Não sabia o que fazer, peguei o computador e comecei a procurar métodos abortivos, encontrei dois sites que me tranquilizaram e ajudaram muito, esse e um outro. E, dessa forma, descobri o cytotec, mas a questão era: onde arrumar isso? Infelizmente a venda é proibida no Brasil, o que eu sempre achei um absurdo porque o governo não deve controlar nossas decisões mais íntimas, mas não vou entrar no mérito. Continuei minhas buscas na internet e descobri um site com várias receitas de chás abortivos, anotei tudo que podia, saí de casa correndo e fui à procura das diversas ervas que ali estavam anotadas. Passei metade do dia fazendo isso e estava correndo contra o tempo, porque era dia de jogo do Brasil (copa do mundo), tudo fecharia mais cedo e meus pais iriam pra casa antes. Eu não podia correr o risco que descobrissem nada, meu pai iria surtar e minha mãe ficaria extremamente decepcionada. Eu não queria ver a decepção nos olhos dela, acho que não aguentaria. Voltei pra casa e fiz o chá: horrível! Tomei muito, várias vezes repetidas, até mais do que o site recomendava. Aquilo tinha que dar certo, então estava disposta a tomar quantas vezes fossem necessárias. Minha mãe chegou a perguntar o que era e eu disse que era pra emagrecer. Depois de passar o dia sem falar com ninguém, finalmente desabafei. Contei pra duas amigas. Eu precisava falar com alguém, saber daquilo sozinha estava me matando, precisava de apoio e foi exatamente o que recebi delas. Foi surreal contar que não era mais virgem e que estava grávida de uma só vez, já que não tive a oportunidade de contar sobre minha relação antes, mas tomei coragem e contei. Compartilhar isso foi a melhor coisa que já fiz. Minhas amigas me ajudaram, falaram o que eu precisava ouvir, se preocuparam comigo e só o apoio já é extremamente reconfortante. No dia seguinte, angustiada, uma delas me aconselhou a fazer o exame de sangue. Ainda com um pouco de esperança que aquele teste de farmácia estivesse errado, eu fui. A angústia pela espera do resultado me consumiu o dia inteiro e, no final, infelizmente, só confirmou o que eu já sabia. Finalmente chorei.. Chorei muito e mais uma vez ter o apoio foi fundamental, minha amiga me acalmou muito e me aconselhou a ir ao médico. Todo esse tempo, eu estava tomando o chá e nada. Fui à médica no dia seguinte e ela disse que eu deveria contar pra minha mãe, mesmo se minha decisão fosse mesmo abortar, mas isso estava fora de cogitação, até porque ela nunca apoiaria um aborto. Perguntei sobre o cytotec e ela me apavorou, certamente porque é médica e eles costumam ser contra. Ela disse que era melhor eu procurar uma clínica de aborto a tomar o remédio, porque tinha maiores chances de dar errado, de eu ter uma hemorragia, morrer ou não abortar e ter um filho com problemas. Saí de lá bem assustada, voltei a procurar na internet e li todos os depoimentos que encontrei, precisava de ajuda e incentivo. Ler vários casos que deram certo foi fundamental, mesmo sem fazer ideia de como eram aquelas pessoas, elas me proporcionaram um conforto e me incentivaram como nenhuma outra pessoa conhecida poderia fazer. Ao chegar em casa, contei pra minha irmã adotiva. Ela tem 20 anos e só veio morar com a gnt faz pouco tempo, antes morava na Cidade de Deus (CDD) e eu sabia que ela tinha amigas que já haviam feito o aborto. Recorri a ela, era minha esperança de solução. E foi! A irmã dela já tinha feito e conhecia uma enfermeira que vende as pílulas por 400 reias. Melhor momento da minha semana, apesar do valor. Já era quinta. Passei o final de semana esperando pelo remédio, foi desesperador. Tudo que eu queria era que isso acabasse logo. Não conseguia olhar nos olhos da minha mãe, que, como sempre, vinha me abraçar e ser fofa comigo, piorando minha situação. Me sentia a pior dos seres, uma impostora. Minha irmã me convenceu a sair no sábado à noite, ela ficou com medo que eu surtasse em casa. Saímos, bebemos e eu não acreditei quando vi meu vizinho vindo na minha direção. Ele mora aqui há uns 2 anos e nunca tínhamos nos esbarrado na balada. Eu já tinha decidido fazer tudo sozinha e não queria contar nada pra ele, estava com vergonha, eu acho..não sei explicar exatamente o que se passava na minha cabeça naqueles dias. Minha irmã dizia toda hora que eu deveria falar com ele, pq achava que ele tinha sido babaca em tirar a camisinha sem meu consentimento e que precisava ter consciência do resultado de sua atitude. Bom, como tinha bebido, acabei tendo coragem e falei tudo de uma vez. Ele ficou sem reação. Conversamos muito tempo ali, depois nos falamos por telefone e eu esperava que ele me desse mais suporte, mas não foi o que aconteceu. Parecia que ele tinha ignorado completamente e que era um problema só meu. Fiquei muito mal, senti raiva, tristeza e, principalmente, me senti um lixo, mas decidi não pensar mais nisso, não estava me ajudando. Me concentrei no que tinha que fazer nos próximos dias e no apoio que estava recebendo das minhas amigas e irmã. Domingo, segunda, terça e nada do remédio (e nem dele, não apareceu pra saber como eu tava).. comecei a achar que a mulher estava me enrolando e não me venderia nada. Voltei a entrar em pânico, a incerteza e a espera são as maiores inimigas nesse momento. Finalmente, na terça de noite, ela ligou e minha irmã foi até a CDD pegar o remédio. Fiquem em jejum umas 10h, esperei meus pais saírem de casa na quarta de manhã e tomei o remédio umas 7h. Coloquei os 4 embaixo da língua, deixei ali, acabei adormecendo e ficaram mais de 30 min, quando “acordei” percebi que ainda não tinha engolido. Fiz isso imediatamente, mas confesso que fiquei com medo de que não desse certo. Aliás, esse foi um sentimento que carreguei durante em todos os segundos.. tinha medo que meus pais descobrissem, tinha medo de não dar certo, tinha medo de ter uma hemorragia muito forte e parar no hospital, tive muito medo de morrer, tive medo de ir pro inferno - minha família é evangélica e isso também me atormentou. Após engolir o remédio, voltei a dormir.. umas duas horas depois comecei a sentir uma leve cólica, mas nada demais. Levantei cheia de expectativa, fui ao banheiro e NADA no absorvente. A sensação foi horrível. Fiz xixi e, pra minha felicidade, ao limpar: sangue! Acho que nunca fiquei tão contente por estar sangrando. Desse momento em diante, passei a sentir mais cólicas, teve um momento que a dor foi bem mais forte, como se estivessem arrancando com brutalidade algo dentro de mim. Doeu bastante, mas não durou muito. Fiquei com medo de tomar ibuprofeno e cortar o efeito do remédio, então optei por sentir a dor integralmente. Voltei a adormecer e com isso não senti mais nada, além de cólica bem leve (e diarreia em determinado momento). Fiquei extremamente preocupada, porque esperava mais dor e mais sangue.. bem mais sangue, porque muitos depoimentos me passaram essa impressão. Nos dias seguintes, eu parecia menstruada, mas o sangramento em si era menor do que meu fluxo menstrual. Foi horrível, tinha a sensação de que não tinha dado certo, eu queria e esperava mais sangue pra ter a certeza de resultado positivo. Saíam alguns pedaços parecidos com fígado, mas nenhuma “bolinha branca”. Minha irmã, pra me tranquilizar, disse que poderia sair nos dias seguintes, depois começou a dizer que poderia não sair nada, já que eu tinha pouco tempo de gravidez. Ouvir isso ajudou bastante e continuar “menstruada” começou a me encher de esperanças. Passei a ter certeza que já tinha dado certo, mesmo sem ter visto a tal “bolinha” saindo (acho que é o saco gestacional, o feto, sei lá..). Não importava que não tivesse saído tanto sangue assim e nem que eu tivesse sentido poucas dores, eu estava acreditando que tinha dado certo. Sábado a noite, 3 dias depois de ter tomado o cytotec, estava me arrumando pra sair e comecei a sentir um cólica muito levinha, muito mesmo. Continuei me arrumando e, de repente, senti uma coisa meio grande (mais ou menos do tamanho daquelas bolinhas que quicam, um pouco maior) saindo de mim, fiquei imóvel. Assim que percebi que tinha saído completamente, corri para o banheiro. Finalmente, a bolinha esbranquiçada tinha saído, eu fiquei olhando pra aquilo no meu absorvente e comecei a tremer muito. Não sei se só de felicidade, era um mix de sentimentos. Tirei dali e joguei no lixo. Tomei outro banho e contei pra minha irmã. Agora era fato: tinha dado certo! Fiquei muito feliz e aliviada. Não via a hora de fazer uma ultra pra comprovar o que eu já sabia, esperei 7 dias, como recomendado, e fui fazer o exame. Ficar sentada esperando ser chamada trouxe de volta um pouco de insegurança, voltei a pensar: “e se não deu certo, o que vou fazer?”. Entrei na sala e o exame começou, então o médico disse: “por que você tá fazendo esse exame?”. Gelei, não queria anunciar que tinha provocado um aborto e respondi que estava grávida, tive um sangramento e minha médica mandou que eu fizesse uma ultra. Mentira. Não sei se ele acreditou, mas disse que não tinha nada ali, que meu útero estava completamente limpo. Eu não sei como contive minha alegria ao ouvir isso. Foi a melhor notícia do meu ano, sei que pode parecer maldade, mas foi exatamente o que senti. Quanto ao meu vizinho, ele sabia que eu tomaria o remédio, mas só falou comigo na sexta - uma semana depois de saber de tudo - e nem me perguntou se eu estava bem, mas se tinha dado certo. Gente, eu acabei de passar por tudo isso, fiz a ultra na sexta passada (dia 25/07/14) e sei o quanto é assustador, mas se você está certa de que não pode ter um filho é melhor recorrer a isso do que colocar um serzinho no mundo que não é desejado. O cytotec é muito seguro, li nos sites que é um dos métodos mais seguros que existe, procure uma forma de consegui-lo e não deixe que ninguém decida por você, nem a proibição do governo, nem normas de religião. Você tem o direito de tomar as rédeas de sua vida e decidir o que é melhor não só pra você mesmo, mas também para a “sementinha” que está ali. Sei que se tornaria uma criança, mas será que isso é suficiente para manter uma gravidez indesejada? Pode ser melhor optar por não parir a não amar, o que, na minha opinião, seria o único crime.
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Me senti, em um primeiro momento, de mãos atadas frente ao meu futuro e minha vida.
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Poucas pessoas sabem, mas apoiaram minha decisão.
~ Energia divina en la mujer ~
Yo decidí abortar : Cuando tuve conocimiento que me encontraba en estado de…