Ana Monteiro
Primeiramente, gostaria de dizer para você que procura por esses depoimentos, manter o que resta de calma. Eu não sei bem como começar esse texto, mas é porque tem sido muito difícil manter esse segredo, já que muitas coisas têm passado pela minha cabeça. Apenas meu namorado, uma amiga dele e eu sabemos. Senti vontade de divulgar a minha história para ajudar outras mulheres, pois todos os depoimentos que li me acalentaram nesse processo. Tal processo, devo dizer que no meu caso, considerando tantas mudanças e todos os receios que isso trouxe na minha vida, foi "tranquilo". Isso também comparando com a única referência de aborto que tive, a qual me possibilitou saber onde poderia comprar os remédios na minha região. Tenho 19 anos, estou exatamente no meio da minha graduação. Tenho um ótimo relacionamento com o meu companheiro, uma história bastante antiga e de muito afeto e companheirismo. Temos muitos projetos e aspirações. Sempre falamos sobre ter filhos e no quanto isso é importante para nós. No entanto, temos nos planejado. Ou pelo menos temos pensado que sim. No dia 9 de Abril de 2015, fui parar no hospital, devido a um terrível enjoo e por não conseguir manter nada no meu estômago. Não comia fazia alguns dias e isso estava me deixando muito constrangida, pois minha menstruação já estava atrasada e eu imaginava que isso poderia ter ocorrido. Tivemos uma relação desprotegida, na qual utilizei a pílula do dia seguinte 17 horas depois. Tomei em duas doses, de 12 em 12 horas. Sentia um inchaço muito incômodo nos seios, o qual nunca havia sentido. Até começarem esses sintomas e o médico pedir para eu fazer todos os exames possíveis. Fiz um exame de sangue. Eu estava grávida. Meu namorado estava comigo, quase surtamos. Sentimos tanto, que hoje aqui, alguns dias depois escrevendo sobre, eu ainda não sei explicar como foi. Um pesar e uma culpa imensos. Sabíamos que havíamos pedido por um filho, mas mais tarde, quando pudessemos dar as melhores condições possíveis para ele. Sou filha de mãe solteira, fui criada pelo meu padastro e tenho um péssimo histórico de violência e abuso sexual por parte dele. Meu companheiro também não foi criado pelo pai biológico. Sentimos esse mesmo peso. Não queríamos repetir os mesmos erros, sempre pensamos em como nossas vidas poderiam ser diferentes se nossas mães tivessem tomado outras medidas. Não existir seria uma opção cabível em meio ao caos que vivíamos, ainda bem que nos encontramos. Sempre posso contar com ele. Quando descobrimos, ele passou a maior parte do tempo na internet pesquisando sobre o assunto, sobre remédios abortivos, sobre clínicas clandestinas, qualquer coisa que pudesse nos ajudar naquele momento. Por alguns instantes, pensamos em assumir a responsabilidade de sermos pais, mas nos momentos de clareza, a ideia do aborto sempre falou mais alto. Sofremos muito, pois era um filho querido, no tempo errado. Tudo passava pela minha cabeça, o fato de poder ter complicações, sequelas e até mesmo de nunca mais poder ter essa oportunidade novamente. Tive medo de ocorrer algo mais sério. Os sites mais científicos possíveis que vi na internet falando sobre o Cytotec nem sempre traziam informações que me confortavam. Pensei até que poderia morrer. Isso até encontrar cartilhas informativas sobre o uso do Misoprostol para induzir o aborto e outros artigos relacionados sobre testes que foram feitos. Entendi que era algo seguro e "prático", com um pós-operatório pouco doloroso (dependendo de cada caso). Eu esperava que o meu fosse assim. Conseguimos o contato dos remédios através de uma amiga. Uma senhora que eu já havia ouvido falar algumas vezes pela minha cidade, sempre diziam ser de confiança e que era possível encontrá-la facilmente. Compramos 12 comprimidos pelo preço de R$ 600,00. Muitos sites nos diziam que, quanto mais cedo, menos doloroso o aborto seria. Também pensávamos assim, já que eu não queria de forma alguma abortar o meu filho a partir da décima semana, sabendo que poderia ouvir o coração bater, entre outras coisas. Fiz o aborto com 7 semanas e 5 dias de gravidez, duas semanas depois de tê-la descoberto. Estive acompanhada o tempo todo pelo meu namorado. Iniciamos às 2 horas da manhã de domingo. Tomei os 12 comprimidos, todos na sublingual. Tomei 4 na primeira dose, com muito medo de que não fossem verdadeiros. Deixei dissolver durante algum tempo e no final, comecei a me sentir bastante enjoada e acabei vomitando. Pensei que isso poderia interferir em algo, mas na verdade, o remédio já estava na minha circulação. Tudo foi muito rápido a partir daí, então, já não tive mais dúvidas. Comecei a sentir febre e a tremer muito. Mal conseguia me controlar, passei pelo menos 15 minutos assim. Não sabia se era psicológico, estava tão afetada, que não acreditava que realmente pudesse estar acontecendo. Meu namorado mediu minha temperatura e viu que eu estava definitivamente com febre. Logo depois, comecei a sentir dores na minha barriga, que a princípio, pareciam ser intestinais. Levantei para ir ao banheiro, e logo senti que havia algo descendo. Era sangue! Eu mal conseguia acreditar. Comecei a me sentir mais eufórica e fiquei algum tempo no banheiro. Tive diarreia. Senti sair alguns coágulos médios, nada muito grande como vi nos depoimentos por aqui, por isso, fiquei com mais medo de não estar dando certo. Coloquei o absorvente e fui me deitar, pois já estava quase na hora da segunda dose, que era às 5 horas. Eu senti que iria haver uma repetição de tudo o que me ocorreu na primeira. Tomei mais 4 comprimidos via sublingual, deixei dissolver e quando eles mal acabaram, de novo, vomitei e mais sangue, diarreia e cólica vieram imediatamente. Nisso já era quase oito horas da manhã e eu não me aguentava em pé. Estava muito cansada e com medo da última dose ser demais e eu ter algo mais grave. Posterguei por uma hora os últimos quatro comprimidos e tomei às 9. Não consegui dissolver todos, vomitei e tive febre. Esperei mais um tempo e senti cólicas quase insuportáveis, meu namorado fez uma compressa para poder aliviar. Não dormi nada naquela noite e passei o resto do dia de cama. Tudo ocorreu no fim de semana. Horas mais tarde, depois de dias com enjoos repetidos e insuportáveis, sem nenhuma vontade de comer, de repente, senti muita fome. Percebi que meus seios tinham desinchado e que a minha barriga estava normal, praticamente reta na região do útero, sendo que ela já estava começando a aparecer um pouquinho. Consegui comer, apesar do meu estômago estar todo zoado. Não senti a mesma azia dos últimos dias, me sentia bem depois de todo esse alvoroço. Deitei e dormi aliviada. Parecia estar dando certo. O sangue esteve sempre parecido com um fluxo menstrual mais intenso, nada muito alarmante. Senti algumas cólicas terríveis dois dias depois e fiquei preocupada, logo que fui ao banheiro senti dois coágulos médios descendo, pensei que pudesse ser o embrião, não quis olhar, deixei quieto. Nessa hora, eu havia conseguido fazer xixi normalmente, sem ter aquela leve sensação de incômodo, como numa cistite. Coloquei outro absorvente, até sentir contrações constantes, ignorei até certo ponto. Fui ao banheiro e vi, no meu absorvente, algo que não sei realmente descrever. Não tinha sido totalmente absorvido, ficou por cima, com um formato de ovinho, tinha algo muito pequeno "dentro", algo que acredito ter sido o meu filho. Dava para ver o cordão umbilical se formando e uma coisinha com uma cabecinha, sem membros e só com o tronco. Fiquei arrasada naquele momento. Tentei levar de todas as maneiras para o lado positivo, ainda tenho tentado e sei que minha vida e a do meu namorado melhorou muito, tenho uma sensação de alívio gigantesca, apesar da culpa que me cerca por pensar que devia ter realmente me prevenido para não ter que passar por isso. Ainda não retornei ao médico, estou aguardando o dia da consulta. Estou ainda em processo, tenho leves cólicas e um fluxo menstrual pouco intenso. Volta e meia, algum coágulo aparece. Sei que isso pode durar até duas semanas, então, estou me preparando para a próxima semana que virá. Sinto que deu certo, pois o aborto foi bastante cauteloso, num ambiente limpo e calmo, preparado para isso. Tudo o ocorreu como deveria ter acontecido até aqui. Espero ter melhores notícias nos próximos dias. Desejo muita sorte para todas vocês que têm passado por isso e precisam de ajuda. Tentem contar com alguém, não façam o aborto sozinhas. Estejam cientes de que o remédio funciona sim se for o original e se o seu corpo aceitar isso.
2015 Brazilië
De muito medo, aprendizado e amadurecimento. Não quero passar por isso nunca mais.
Had de illegaliteit van je abortus invloed op je gevoelens?
Me senti muito desprezada e desumanizada pela legislação brasileira e por todos esses fanáticos, machistas e imbecis que são responsáveis pela formulação das leis. Nenhuma mulher merece passar por isso sem uma assistência adequada, já passou da hora de respeitarem as nossas vontades sobre o nosso corpo. Ninguém vai pagar as minhas contas ou me dizer como fazer algo tão íntimo, Senti falta do apoio da minha família que não poderia sequer imaginar o ocorrido.
Hoe reageerden andere mensen op je abortus?
A única pessoa de fora que soube, foi quem nos ajudou.
Marilyn Ramos Morenita. !
Yo decido, yo hago lo que quiero con mi cuerpo y nadie tiene porque decirme…