R. P.
Força, meninas, que tudo se ajeita!
2015 Brazil
Oi, meninas... Para vocês que estão lendo este depoimento eu peço CALMA, MUITA CALMA! Sei que é difícil ficar assim nesse momento, quando descobrimos que fomos desleixadas e deixamos algo natural acontecer. Passei por tudo isso que vocês estão passando. Mas tenham fé, confiem em Deus, que tudo irá se ajeitar. Descobri que estava grávida no início de março. Já estava desconfiando porque tinha tomado a pílula do dia seguinte há um tempo e já era para ter menstruado. Comprei um teste de farmácia a noite e, como na bula pedia a primeira urina da manhã, resolvi esperar até o outro dia. Mas foi uma noite com muitos sonhos e não consegui mais dormir. Acordei às 3h30 para fazer o teste e, para a minha infelicidade, deu positivo. O pai? Ai ai... Era um carinha que eu tinha conhecido a quase 2 meses, estávamos saindo mas no fim não deu certo. Liguei desesperada para a minha melhor amiga, que foi um anjo comigo desde o começo e falou que me apoiaria na decisão que eu tomasse. Também contei para a minha irmã, que tentou me acalmar e me ajudou muito também. Estava desesperada porque não tenho condições financeiras de criar um filho neste momento, trabalho como autônoma e o pai... ai ai... o pai... mal ganha para ele. Além disso, iria ser mãe de duas crianças, porque a cabeça dele... Foi por isso que o larguei. Mas por ironia do destino acabei engravidando dele. Disse que me apoiaria, me ajudaria a criar a criança, mas como? Eu não poderia trabalhar e o que ele ganha mal dava para ele. Contei sobre a decisão de abortar e ele me disse que isto não apoiaria. Muito fácil! Não me ajudou com o dinheiro de nenhum exame nem do médico, e ainda acha que pode sustentar uma família. É fácil demais falar que não iria ajudar no aborto porque não concorda com isso. No fim acredito que ele não tinha intenção de me ajudar financeiramente com nada, assim seria fácil falar que não apoia o aborto e ficar distante na história. Fiquei tão irritada com o cretino que cortei o pouquinho de relação que tinha com ele, e resolvi me virar sozinha. No mesmo dia fiz o teste de laboratório, que também deu positivo, e procurei um ginecologista. No dia seguinte fiz o ultrassom que confirmou a gravidez de 5 semanas. Foram dias de muito choro e depressão. Não queria a criança, não queria a gravidez. A minha sorte é que moro sozinha, em outra cidade, então minha família não pôde perceber os problemas pelos quais passei, só os visitei uma vez nessa fase, e não sei como consegui esconder que estava mal de todos. Para piorar a situação, minha irmã tinha me contado na mesma semana que estava grávida, ou seja, eu iria sobrecarregar demais meu pai! Desesperador!!! Tomei a decisão de abortar mas isto também não foi fácil. Não sabia por onde começar. Tomei 2 golpes no caminho. Prejuízo de R$ 1.950,00 . Não conhecia ninguém que tinha abortado, as pessoas que minha irmã e minha amiga conheciam não queriam contar como ou onde fizeram, teve uma que disse que se arrepende tanto que falou que nunca iria ajudar e cortou relações com minha amiga. Só me restava a internet. Entrei em contato com o Woman on Web, me ajudaram com informações, mas não enviam mais as pílulas para o Brasil e eu não tinha como ir para o exterior buscar. Resolvi procurar um vendedor daqui e foi nisso que tomei 2 golpes. O primeiro foi de um contato que minha irmã arranjou para ela no seu momento desesperador (mas ela desistiu da ideia). O segundo foi assim: achei uma comunidade no facebook que teoricamente acha uma clínica de aborto o mais perto de onde você está. Já tinha tomado um golpe, estava morrendo de medo de outro. E esta comunidade não estava me convencendo, aquilo era muito fácil. Vi curtidas de várias mulheres e tive a ideia de entrar em contato com elas para saber se alguma tinha usado os serviços daquela comunidade. Enquanto isso eles me enviavam e-mails sem parar perguntando se eu queria ou não o serviço e que tinham achado uma clínica, deram até o nome do médico que iria fazer o aborto. Para isso eu pagava a primeira metade para eles confirmarem o agendamento e a outra parte 30 dias depois do procedimento. Não conseguia engolir aquilo! A primeira mulher que me respondeu foi a segunda golpista. Me adicionou no whatsapp, queria saber a minha história, contou a dela, e disse que vendia uma injeção que só era fornecida em hospital. Nunca vi a cor da injeção, mas ela viu a cor do meu dinheiro. Após o depósito ela me bloqueou no whatsapp. Desesperei de novo. Tinha visto uma luz no fim do túnel mas era cilada. Entrei em depressão de novo. Enquanto isso os enjoos só aumentavam e tinha dias que eu não conseguia ir trabalhar. Nesta parte também tive sorte de ser autônoma, caso contrário acho que tinha sido despedida, passei realmente muito mal. Várias outras mulheres me responderam no facebook e uma delas foi o segundo anjo na minha vida, pois pegou meu e-mail e me passou o e-mail da Danica (danica1994@hotmail.com), que foi a peça chave nessa minha luta. Com ela não só consegui os medicamentos, mas o conforto psicológico do qual precisava. Ela me passou informações por e-mail sobre o Cytotec e eu decidi tentar pela última vez, era a minha última cartada e eu precisava contar com a sorte. Como tinha sido indicação, resolvi confiar de novo. Mas pesquisei primeiro se tinha alguém falando mal dela na internet e não achei. Fiquei mais tranquila, resolvi contar com a sorte, e na segunda recebi meu pagamento e já fiz a transferência. O tempo estava passando e o desespero só aumentava. Naquela semana completei 8 semanas de gestação. No mesmo dia ela me enviou os 12 comprimidos que encomendei, porque eu tinha lido que esta quantidade era o ideal para fazer o aborto e eu não queria correr mais riscos (precisava fazer dar certo). Eles chegaram na quinta-feira. Até o momento da transferência do dinheiro não tinha dúvidas sobre fazer o aborto. Mas após o pagamento e envio do código dos correios foi como se a realidade tivesse me dado um tapa na cara e tive mais um motivo para depressão: sabia que precisava abortar mas não estava feliz com aquilo. Chorei muito, passei muito mal, pesei toda a minha vida e prometi para mim mesma que nunca mais me daria motivos para fazer algo parecido. Que iria me cuidar. Estava me livrando do meu bebê, mas odiava o fato do pai que ele teria, o qual não estaria presente, e da vida difícil que teríamos, tendo que necessitar do meu pai para sustentá-lo e sendo mãe solteira. Cheguei a pensar em desistir do aborto e tentar prosseguir com a gravidez. Chorei muito pelo pai ser quem era. Minha amiga me falou para eu pensar direitinho, mas eu tinha de fazer aquilo. Só tive a certeza mesmo na chegada dos medicamentos. Os porteiros fizeram confusão com as correspondências e, depois de muito estresse, acharam meu envelope. Neste momento vi o tanto que queria aqueles comprimidos. A partir daí não tive mais dúvidas. Comecei o procedimento numa sexta de manhã. Em todo o momento a Danica me ajudou, tirando todas as minhas dúvidas. Tive muito medo de não dar certo. Optei pelo método intravaginal: na verdade, a cada 3 horas tinha que colocar 3 intravaginais e 1 na boca embaixo da língua. Comecei às 8h50 e fiquei deitada. De início tive calafrios. Estava gelada! De vez em quando umas pontadas de cólica, mas parecido com cólica de menstruação, suportável. E dor de barriga, queria muito ir ao banheiro. Mas me segurei até a hora da segunda dose porque tive medo de ir no banheiro e os comprimidos saírem no vaso. Faltando uns 10 minutos para a segunda aplicação fui ao banheiro e tive muita diarréia. Quando fui me limpar veio o sangue no papel higiênico. Tomei banho, coloquei a segunda dose, e deitei no sofá. Neste momento as cólicas aumentaram MUITO e eu senti muita dor. Perguntei para a Danica até quando ficaria sentindo essa dor, e ela falou que iria vir e voltar, picos de dor, e que durariam até a expulsão do embrião, a qual poderia demorar umas 12 horas. Desesperei! Sentir aquela dor por 12 horas? Mas eu queria aquilo e resolvi aceitar. Orei. E Deus novamente me ajudou. Depois de 1 hora e meia de dor adormeci de repente e acordei com minha amiga chegando. Ela me deu o paracetamol 750 mg, o qual fiquei tomando de 4 em 4 horas. Nunca mais senti aquela dor. Tinha cólicas mas beeeem menores. E a noite já estava bem. Coágulos saiam no vaso junto com o sangramento, mas foi bem de boa. Dor de verdade foi somente naquela 1 hora e meia. Não tive febre, enjoo nem hemorragia intensa. Antes de iniciar o processo já estava de jejum de 24 horas, mas nem era porque queria, tinha passado muito mal no dia anterior. E só fui comer após 4 horas do início do procedimento, mesmo assim somente biscoito de água e sal, não quis abusar mais de mim com comida pesada, nem apetite eu tinha. Eu e minha amiga assustamos porque foi muito de boa, esperava coisa muito pior, principalmente por ter lido um monte de depoimentos. Por isso pensei que não tinha dado certo. Mas a Danica sempre me acalmava e falava que iria dar tudo certo, e que foi mais tranquilo porque ainda estava no inicinho da gestação. Isto foi na sexta. Na segunda confirmei o aborto. Fui no médico, fiz o ultrassom... Foi quando realmente caiu a ficha. Chorei demais! Me sinto aliviada mas muito triste pelo que fiz. Meu arrependimento foi não ter me cuidado, o que me levou a fazer tudo isso. Espero que este filho que não tive esteja bem onde estiver, sinto muito por tudo. Fiquem em paz, meninas, pode acontecer com qualquer uma. Não se julguem, se cuidem, estou na torcida por vocês!
Adakah haramnya pengguguran anda mempengaruhi perasaan anda?
Sim. Foi muito simples meu aborto. Detesto a ilegalidade porque é somente uma questão política (religiosa? será?). Não tive maiores complicações, não tive aborto retido, não tive hemorragia nem qualquer coisa que as histórias de terror que o povo espalha contam. Se o aborto fosse legalizado, não tinham tantas mulheres morrendo por aí por causa de picaretas que aparecem. Não acho isto um crime. O crime é proibir a mulher de tomar decisões acerca de sua própria vida e corpo.
Bagaimana reaksi orang lain terhadap pengguguran anda?
Tive o apoio de 2 amigas e da minha irmã. O pai foi um cretino, e disse que não ajudaria. Quando, realmente, iria ajudar?