Isa
Eu sou muito nova e fim. Esse é o motivo principal. Tenho só 15, e o pai da criança tinha 22. Eu não gostava realmente dele, foi um momento de luxúria, de fogo ao qual eu me entreguei sem pensar nas consequências. Não usamos preservativo por insistência dele, dizia que incomodava, que não gostava e que no outro dia iria me dar a pílula do dia seguinte.
''Depois de conversar com a minha mãe, ela foi procurar o remédio. Foi uma das piores esperas da minha vida.''
2014 Brasil
Eu sou muito nova e fim. Esse é o motivo principal. Tenho só 15, e o pai da criança tinha 22. Eu não gostava realmente dele, foi um momento de luxúria, de fogo ao qual eu me entreguei sem pensar nas consequências. Não usamos preservativo por insistência dele, dizia que incomodava, que não gostava e que no outro dia iria me dar a pílula do dia seguinte. Eu acabei cedendo, e tomei a pílula no outro dia. Mas esta falhou. Eu fiquei desesperada e contei para uma tia, que contou aos meus pais por caridade a mim. Eles não aceitaram bem a notícia, e minha mãe logo sabendo que eu estava desejosa de abortar, conversou comigo e me perguntou se era isso que eu queria mesmo. Meus pais sempre investiram tudo no meu futuro, estudo na melhor escola da cidade, participo de tudo. Sou umas das melhores alunas da classe, e um filho agora só viria para atrapalhar a minha vida inteira. Meu namorado não aceitou o aborto, então eu decidi fazer e dizer a ele que foi algo espontâneo. O primeiro desafio foi encontrar o remédio. Por intermédio de uns amigos farmacêuticos, meu pai conseguiu seis comprimidos e trouxe pra casa. Depois de muito refletir, decidi que seria aquela a hora. Eu não estava na idade para ser mãe. Mal sei cuidar de mim mesma! Iniciei o procedimento no sábado, ás 22:10. Coloquei 4 comprimidos de misoprostol embaixo da língua e esperei meia hora. Ao fim dos primeiros 20 minutos já sentia uma leve cólica. Engoli os remédios e a dor tinha se tornado insuportável, me veio uma onda de náusea então sentei no vaso. Tive uma diarreia muito forte e ânsia de vomito. Vomitei um pouco e minha mãe veio e me colocou embaixo do chuveiro na água quente... Me despiu e me mergulhou na água. Não sei quanto tempo fiquei lá, eu sentia muita dor. Só implorava pra Deus me perdoar e tirar aquela dor de mim, comecei a delirar e veio um cansaço enorme. Minha mãe chamou pelo meu nome, me ajudou a levantar e eu quase desmaiei. Ela me deitou na cama mesmo molhada, enrolada só em uma toalha e eu delirava de dor. Mesmo no calor insuportável eu batia o queixo de frio. Ela se preocupou e disse que se eu quisesse ela me levava no hospital, eu disse que não: Eu podia suportar aquela dor. Depois de muito chorar, delirar e clamar pra Deus me tirar a dor. Ela enfim passa, adormeço coberta por um cobertor e nada de sangue. 3 horas depois acordo com minha mãe do meu lado. Febre de 38 graus. A dor havia passado, mais eu estava um pouco tonta e não conseguia me concentrar em nada do que ela falava, apenas aquiescia com a cabeça. Dormi novamente. 1 hora depois ela me acorda pra tomar os outros dois remédios, desta vez 15 minutos depois de eu colocar na boca a dor veio, muito forte. Corri pro banheiro, tive uma diarreia forte mas dessa vez sem vômito. Deitei sob a água quente e pedi novamente pra água lavar aquela sensação horrível que eu tava sentindo. Nada de sangue ainda. Voltei pra cama. Acordei algumas horas depois e fui urinar. Desceu alguns coágulos, dei descarga e voltei a deitar. Acordei de manhã com um ponto duro na minha barriga, apertei até descer e ficar perto do útero. Senti uma dor insuportável, fui pro banheiro e fiz força. Foi como se algo estourasse dentro de mim. Ouvi um PLOC dentro de mim e em seguida caiu muito sangue ralo, misturado com algo meio amarelado, acho que era o líquido amniótico. Fiz mais força e saíram pedacinhos de algo, parecendo uma carne, só que transparente. Minha mãe me levou ao hospital e eu fiz uma ultrassom intravaginal e o aborto foi com sucesso. Mas eu teria que fazer a curetagem para retirar o resto fetal que tinha ficado no meu útero. Eu não sei se me sinto aliviada, culpada. Realmente não sei. Só que eu não quero passar por isso de novo nunca mais na minha vida. Quero mergulhar nos estudos pra dar algum orgulho aos meus pais. Devo isso a eles, minha mãe fez tudo com muito medo de acontecer algo a mim e também da ilegalidade do aborto aqui no Brasil. Foi um sofrimento desnecessário, por uma irresponsabilidade, uma coisa de momento. Me entreguei a um cara que eu nem gostava. Espero que isso agora sirva de lição a todas as meninas da minha idade. O aborto é uma dor insuportável, e desnecessária pra algo que pode ser evitado usando camisinha ou então um bom anticoncepcional!
¿La ilegalidad del aborto afectó sus sentimientos?
Sim. Não me senti livre a tomar decisões sobre o meu próprio corpo. Na minha opinião, uma mulher tem que poder fazer o que quiser com o seu corpo, e uma gravidez na hora errada sem o planejamento adequado é pior do que um aborto. Colocar uma criança no mundo sem meios para cria-lá é ainda mais doloroso do que a dor do aborto! A dificuldade de encontrar o remédio não alterou em nada minha decisão.
¿Cómo reaccionaron otras personas a tu aborto?
Não muitas souberam, apenas algumas amigas. Meus pai e minha madrinha. Tive apoio dos meus pais, minha madrinha e dessas amigas que reagiram super bem, e pela minha pouca idade incentivaram o aborto prontamente.